No Brasil, ainda vigora o Decreto 51.838, de 14 de março de 1963, que determina a apreensão e o sacrifício de qualquer cão que apresente resultado positivo no exame de sorologia para a leishmaniose visceral canina.
Acontece que o mundo passou por transformações drásticas nesses mais de 50 anos. As mudanças foram profundas nos campos da medicina – humana e veterinária –, da indústria farmacêutica, das pesquisas biológicas e, principalmente, na forma como as pessoas enxergam os animais e se relacionam com eles. Se antes o cão ficava no quintal para “guardar a casa”, e o gato era adotado para “caçar ratos”, hoje os chamados “animais de companhia” têm muitos direitos reconhecidos e já gozam do status de “membros da família”.
O Poder Público tem o desafio de atualizar suas diretrizes no combate à Leishmaniose. O Brasil é o único país do mundo que ainda recomenda a eutanásia, sendo que existem, inclusive no mercado nacional, um amplo leque de opções para PREVENIR e TRATAR a LVC.
Se o seu cão foi mais uma vítima da Leishmaniose, deixe aqui o seu breve relato. Ele é importante para que mais pessoas se conscientizem a respeito da importância da prevenção e para que as autoridades do País entendam como é urgente e necessária a atualização das leis que tratam desse assunto.
“Já foram tantos que eu perdi nessa briga, até perdi a conta… A cada um deles, a dor me torna uma
pessoa mais triste, mais amarga, com uma capacidade de amar cada vez menor… Acredito que os cães não são os vilões, de forma alguma. São vítimas, mais que qualquer outra coisa, e como vítimas merecem ser defendidos.“
A.J.V. – Ceará
“Perdi meu Shake em 2008. Era um boxer lindo, cheio de vida, mas começou a emagrecer rapidamente. Depois, vieram os outros sintomas da doença. O veterinário fez o exame e logo me indicou a eutanásia. Eu não tinha informação sobre a doença e assim o fiz. Como me arrependo toda vez que vejo a foto dele… Agora tenho uma rottweiler com o mesmo diagnostico, encontrei um veterinário aqui na cidade – que acho ser o único contra o sacrifício de animais, pois eles não são culpados – e estou tratando minha Tatá, que é linda de viver. Todos dizem para sacrifica-la também. Falta informação e sobra preconceito! Por mim, ela viverá uma eternidade!”
M. B. G. – Paraíba
“Sempre gostei de cães e desde pequena tive vários em casa. Mas essa terrível doença foi chegando na minha região e perdi vários cães. Demorei a descobrir que a secreção nos olhos dos meus amados cãezinhos era, na verdade, algo mais sério. É muito triste a dimensão que essa doença está tomando no país, e o pior é que muitas pessoas perdem seus cães por causa da doença e, mesmo assim, criam outros sem tomar as precauções necessárias. Se todos os cães fossem vacinados, a situação seria bem mais simples.”
A. P. – Tocantins
“Já socorri vários cães com leishmaniose. Alguns me marcaram muito e acabaram morrendo em minhas mãos. Mas a Nina foi diferente, pois me senti traída pela leishmaniose, que silenciosamente a levou. Ela era uma linda vira-latas, parecida com um labrador. Era energia pura, muito alegre, brincalhona e saudável. Usava repelente em todos, pois Jales, onde resido, é uma área endêmica. Certo dia, viajei, e ao voltar, vi que a Nina perdia sangue pelo nariz. Corri para o veterinário, e este, após exames específicos, confirmou diagnóstico de leishmaniose. A nossa Nina estava com uma hemorragia nasal (conhecida como Epistaxe) que não estancava, aliada a uma insuficiência renal gravíssima. Assim, a minha menina acabou falecendo. Fiquei arrasada, pois foi uma morte triste e que me pegou de surpresa. Ela realmente aparentava ser saudável. Foi muito triste e dolorosa a sua morte, ver a alegria sumir de seus olhinhos. Nem preciso dizer o quanto partiu meu coração. Então deixo aqui o meu alerta: leishmaniose é coisa séria, e a melhor arma ainda é a prevenção, pois nem sempre o animal está em condições de ser tratado depois que a doença é descoberta. Essa causa é minha, é sua, é nossa …A doença avança e está mais perto de você do que imagina. Lembrem-se: quem ama cuida!!! Parabéns Arca Brasil, estou com vocês nessa luta!”
V. V. (Advogada) Jales/SP
“Eu ainda não perdi a minha Lupita, pois luto com formas alternativas para tratar do meu bebê. Quem sabe, se ela pudesse ter o tratamento adequado, eu não veria aqueles olhos tristes. Ainda assim, ela tenta me alegrar, querendo brincar com o “cuqui-cuqui”, pois sabe que me fará feliz. Talvez eu não precisasse ‘entupi-la’ de remédios que não fazem efeito, que a deixam com dor de estômago. Quem sabe ela não mutilaria seu corpo e não ficasse cheia de feridas. Eu não vou desistir de cuidar da minha princesa, pois sei que ela NUNCA me abandonaria. Jamais senti um amor tão puro como esse, que parte dela. Como poderei entregá-la à morte? De forma alguma. Tudo que eu puder fazer, eu farei. Faço minhas as palavras de Paulinho Chanakian, sobre esse amor incondicional: “Quanto mais sou eu mesmo, mais ela parece gostar de mim. Quando não sou, ela olha complacente e me dá um tempo até eu voltar. Ela deixa claro como água que eu jamais poderia gostar dela mais do que ela gosta de mim, embora meu amor por ela seja o mais puro que eu possa imaginar brotando do meu coração. Na alegria, na saúde e na riqueza, lá está ela, sempre sorrindo, pulando e brincando; na tristeza, na doença e na pobreza, ela se deita ao meu lado em silêncio e, serena, encosta a cabeça em qualquer parte do meu corpo, me fazendo sentir que não há ninguém nesse mundo que quisesse estar ali mais do que ela. (…)”POR FAVOR, PERMITAM O TRATAMENTO ADEQUADO PARA NOSSOS ANIMAIS. É DESUMANO, É CRUEL VIVER DE MÃOS ATADAS VENDO ALGUÉM QUE VOCÊ AMA SOFRENDO E NÃO PODER FAZER NADA. ONDE ESTÃO AS POLITICAS PUBLICAS? E AS CAMPANHAS PARA ERRADICAR O MOSQUITO? NÃO SÃO NOSSOS CÃES QUE DEVEM SER PUNIDOS!”
N. H. – Mato Grosso do Sul
“Quando comecei a minha luta contra a leishmaniose, colhi assinaturas em minha cidade, de porta em porta, e estas foram enviadas ao Ministério Público. Era 1989, e a resposta veio dois anos depois. Uma resposta que até prefiro esquecer, pois dizia um sonoro não aos nossos pedidos, argumentando que era impossível prevenir as picadas dos mosquitos e, por isso, os cachorros continuariam sendo mortos. Mesmo os sadios. Isto é, sabiam dos resultados falso-positivo, mas diziam não poder correr riscos: melhor matar cachorros sadios do que permitir que crianças adoecessem. O resultado dessa política desastrosa é que os cachorros morrem e as crianças continuam adoecendo.”
V. A. D. P. – Minas Gerais
“Entreguei 2 companheiros para o CCZ pois o resultados dos exames deles deram positivo….eu os vi partir. Um outro animal também seria entregue ,mas por estar prenhe não a levaram. Nesse meio tempo, me informei sobre essa doença e descobri que os dois primeiros NÃO ESTAVAM CONTAMINADOS, assim como a fêmea. O pior dessa doença é a falta de informações para a população e o terror que as autoridades espalham. Não me conformo de ter matado meus amados companheiros, eu os mandei para a morte …”
M. S. L. – Mato Grosso do Sul
“Eu tenho uma amiga que tinha um cachorro tudo de bom, que teve esta coisa ‘leishmaniose’…. Quando ele pegou a doença ela levou ao veterinário e tratou de verdade, deu um pouco de trabalho sim, ele continuou tomando um remédio, que segundo o veterinário nunca mais poderia parar de tomar. Gente, ele ficou tão bem, tão forte, inacreditável a recuperação. Ele já era ‘moço’ mas se comportava como baby…. quando sarou ficou mais arteiro e manhoso ainda. Eu acredito que quem ama seu peludo vai tentar salvar, é uma vida, é da família não é? Abraços.”
M. S. – São Paulo
“Oi amigos, perdi meu cachorrinho, o ‘Zulu’, com essa doença maldita, ele pegou essa doença em Araruama…. foi muito triste, só descobri a doença quando viemos para o Rio de janeiro…..A barriga começou a inchar muito, ele ficou apático, levamos ao veterinário, a médica disse que já estava numa fase em que não podia se fazer mais nada…. os órgãos internos já estavam comprometidos, não tinha mais nada pra se fazer, ele só iria sofrer….. Foi com muita dor que fizeram a eutanásia no meu bichinho, eu sofro muito só de falar…Por isso, usem repelentes em seus bichinhos, cuidem deles, pois é uma dor muito grande… Estou aderindo a campanha, pq eu sei o que é sofrer….o bichinho sofre e não sabe o pq do sofrimento … “
Simone – Rio de Janeiro
“É inaceitável que os cães ou outros animais, sejam mortos sistematicamente em nome da saúde pública pois bem sabemos que tal barbaridade em nada melhora a saúde humana. Não há justificativa para isso. Na minha cidade eles são mortos em grande quantidade desde os anos 80 por conta da Leish e a doença só vem aumentando. As informações são contra os cachorros, como se eles fossem os vilões. “Sabe a Leishmaniose, aquela doença de cachorro?” me perguntou certa vez um agente de saúde durante a semana de prevenção. E lá fiquei eu ensinando a verdade ao agente de saúde em plena rua. Vergonhoso. Na mesma semana, uma idéia que surgiu para “melhorar” a situação: mataram cerca de 700 cachorros em uma semana com o apoio da Intertv. Todos podem colaborar no combate à Leishmaniose aprendendo sobre a doença, cuidando bem dos seus cachorros, e até repassando as informações corretas aos amigos e vizinhos“.
V. A. D. P. – Minas Gerais
“Me deu um aperto no peito e um nó na garganta ao ler o slogan de vocês “Prevenção é a melhor solução”, pois poderia ter evitado que eu perdesse minha Pandora. Recentemente apareceram algumas feridas na pele dela e percebi que não estava mais se alimentando direito e perdendo peso rapidamente. Levei ela ao veterinário, que na mesma hora falou que era quase certeza que estava com essa doença. Fizemos o teste sorológico para ter certeza e enquanto o resultado não saía, fiquei com aquela angústia… Dando os medicamentos para parar o sangramento no nariz, aliviar as dores e vitaminas para recuperar o peso. Semana passada saiu o resultado positivo e o veterinário indicou a eutanásia. Disse não haver tratamento, por ser uma doença que não tem cura e por ela já estar muito debilitada… Fiz várias pesquisas e acabei optando por abreviar o sofrimento dela, mesmo que agora eu que esteja sofrendo com a culpa e a saudade. Na minha cidade, de Janeiro até agora (Junho/2016) 800 cães já foram sacrificados por ter essa doença. 800 cães em 5 meses!!! E não há qualquer campanha de conscientização sobre a importância da prevenção, é preferível sacrificar nossos anjinhos que tanto nos deram amor incondicional ao invés de investir em políticas públicas… até quando?Estou esperando o resultado do exame do meu outro cachorro, o Apolo, mas quase certo o mesmo destino O mínimo que posso fazer é ajudar a conscientizar as pessoas que eu conheço para que não passem por essa mesma dor. Parabéns pelo lindo trabalho. Queria ter conhecido antes.”
Rita – Pará
“Nenhuma sociedade digna de respeito pode fazer da morte uma forma de controle”
Dr. Paulo Tabanez (Brasília / DF) , durante palestra ao médicos veterinários em São Paulo.
Em 23 anos de atuação, os projetos, eventos e outras ações da ARCA BRASIL - Associação Humanitária de Proteção e Bem-Estar Animal, entidade não governamental sem fins lucrativos, independente e apartidária, inauguraram uma nova era de esperança e respeito aos direitos dos animais no país.