Aumento de cirurgias faz subir número de procedimentos malfeitos; erros podem ser fatais para cães e gatos
VANESSA GONZALEZ
em colaboração para o Notícias da ARCA
Com muito empenho, mitos e preconceitos em torno da castração foram derrubados e a bandeira da esterilização como a principal ferramenta para diminuir o problema do abandono de cães e gatos no país foi hasteada.
No entanto, a ARCA Brasil, que na década de 1990 foi pioneira nas ações que trouxeram estas conquistas, alerta a sociedade para a importância da qualidade desses procedimentos.
O aumento da procura e a popularização dos métodos fez pipocar por todos os cantos campanhas de castração, mutirões e profissionais “aptos” a realizar cirurgias. Com elas, surgiram questões que não devem ser ignoradas pelos donos.
Critérios e precisão
“Nossa experiência mostra que a destreza cirúrgica vem com o tempo, especialmente para médicos veterinários que não possuem talento nato” destaca Marco Ciampi, presidente da ARCA Brasil, cujo currículo inclui a coordenação de dezenas de campanhas e seminários nacionais e internacionais sobre castração.
“A escolha do protocolo anestésico mais adequado ao perfil e ao volume de trabalho, a higiene, a opção pela qualidade dos medicamentos, pela segurança e pelo bem-estar do animal, tudo conta para o sucesso do procedimento; afinal de contas estamos falando de uma cirurgia!”
Infecções pós-cirúrgicas por falta de assepsia, sangramento interno e erro na dose de anestésico estão entre os erros mais comuns capazes de comprometer a saúde dos animais e até matá-los.
De olho nas “barbeiragens”, o Conselho Regional de Medicina Veterinária de SP (CRMV-SP) aprovou uma resolução com recomendações para os “procedimentos de contracepção em cães e gatos em mutirões com a finalidade de controle da reprodução”.
“Os mutirões têm ocorrido com maior freqüência, portanto, como órgão fiscalizador do exercício profissional, o CRMV-SP entendeu ser necessário disciplinar esse método para garantir a qualidade dos procedimentos, a preservação das condições ambientais e o bem-estar animal”, afirma o Dr. Márcio Rangel de Mello, presidente da Comissão de Clínicos de Pequenos Animais do CRMV-SP.
“O surpreendente número de escolas de veterinária no país, 130 (quatro vezes mais o dos EUA), com cerca de 6 mil novos médicos por ano, deixa no ar a pergunta: essas instituições conseguirão formar profissionais qualificados para o desafio que teremos pela frente?”, reflete Ciampi.
É impossível falar em controle populacional sem citar a castração. No entanto a vitória do aumento na procura não pode acobertar oportunistas ou comprometer a qualidade do procedimento.
As limitações e os riscos das cirurgias é motivo de busca incessante de ONGs internacionais por métodos alternativos, de menor custo, mais simples e menos invasivos. Os primeiros resultados surgiram nos EUA em 2004, na forma de uma esterilização química – por enquanto apenas para cães machos. Após anos de pesquisas um similar brasileiro foi lançado aqui em 2009, apoiado pelo CRMV-SP, com um diferencial importante para previnir a dor, protocolo respaldado pela FMVZ-Unesp/Botucatu (veja aqui na edição de dezembro os resultados dos ciclos de atualização Veterinário Solidário 2010, enfocando a esterilização química).
Seja ao organizar castrações em massas ou na escolha dos profissionais, não se pode esquecer que o principal foco deve ser sempre o bem-estar dos bichos. Uma das principais medidas para evitar os “barbeiros” é procurar uma referência sobre o médico veterinário que irá cuidar do seu animal.
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