Ciclo de palestras da ARCA Brasil coloca em pauta o tema da esterilização química e especialistas dão seu parecer
CAROLINE TONDATO
em colaboração para o Notícias da ARCA
Que a castração é a principal ferramenta na luta contra o abandono de animais quase ninguém discorda. Porém, apesar dos crescentes esforços de Prefeituras, ONGs e protetores independentes de todo o Brasil, a solução efetiva para o problema ainda está muito distante. Isto acontece porque o número de animais atendidos pelas campanhas ainda é baixíssimo. Em 2009, por exemplo, o município de São Paulo destinou R$ 3,4 milhões para atingir 100 mil castrações e conseguiu realizar apenas 48 mil cirurgias, ou seja, apenas 4% do total de animais estimados. Estudos internacionais, por sua vez, apontam que o índice necessário para estabilizar a população de determinada região é de 70%.
Novidade tecnológica
Pesquisadores em todo o globo buscam formas mais eficientes e baratas para a castração em massa de cães e gatos. No Brasil foi lançado um medicamento que esteriliza quimicamente cães machos, o Infertile. Após estréia polêmica e recheada de críticas, o laboratório responsável avançou nas pesquisas e realizou um criterioso estudo conduzido pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), campus de Botucatu (SP), que concluiu ser indolor a aplicação, desde que seguido o protocolo recomendado pelos pesquisadores.
Por se tratar de assunto mais do que relevante, a ARCA Brasilpromoveu durante o ano de 2010 um ciclo de palestras e debates sobre o tema em algumas universidades do País. Voltado para alunos de medicina veterinária, professores, clínicos e profissionais de Centros de Controle de Zoonozes (CCZs), o ciclo se chamou “Esterilização química: Inovação no Controle Populacional”.
Os eventos aconteceram no Rio (UFRRJ), em Santos (Unimonte) e em Bauru (Unip), com palestras do presidente da ARCA Brasil, Marco Ciampi, do responsável técnico do Infertile, Ricardo Lucas, e da doutoranda em anestesia da Unesp, Denise de Fátima Rodrigues. Na sequência, foram feitas demonstrações do procedimento.
Para Ciampi, a superpopulação e o abandono devem ser uma preocupação primordial dos médicos veterinários. “Ao analisarmos os esforços da última década, fica evidente o quanto é limitada a tentativa de equilibrar as populações de cães e gatos pelos métodos convencionais. Por isso formas menos invasivas, menos custosas e mais simples, como a esterilização química, devem ser estimuladas”, disse durante as apresentações.
Lucas falou sobre o desenvolvimento do produto, procedimento de aplicação, vantagens e benefícios para o animal e para as prefeituras. O método é, em média, 70% mais barato que a castração cirúrgica convencional.
O produto, lançado no mercado em 2009, já foi utilizado em milhares animais sem qualquer efeito adverso, até onde se tem notícia. Estudos da Unesp e USP, em fase de publicação, revelam que o produto está adequado ao bem estar dos animais e confirmam que a esterilização química oferece menos dor que o método cirúrgico.
Nos ciclos, Denise explicou detalhes do estudo realizado pela Unesp. Em linhas gerais, foi avaliado o efeito álgico do Infertile combinado com diversas substâncias. As que apresentaram os melhores resultados foram o Meloxican e a Acepromazina, medicamentos baratos e usados há varios anos na área veterinária. “Se utilizado o protocolo de aplicação desenvolvido por nós, o Infertile não causa dor significativa que precise de analgesia de resgate”, disse a doutoranda.
Os cães utilizados para as demonstrações ocorridas após as palestras foram cedidos por professores, alunos ou clínicos da região. Agora, tendo passado mais de seis meses das aplicações, entrevistamos os responsáveis pelos animais para colher algumas impressões.
UFRRJ
Um dos cães castrados no ciclo da UFRRJ foi o Simba, da aluna Camila Baruel. Segundo ela, o Simba ficou quieto e calmo durante e após o procedimento e no dia seguinte já estava normal, brincando e correndo. “Com relação ao comportamento, observei que ele não procura mais fêmeas para montar. Ele já se juntou a outras cadelas e não apresentou comportamento de querer cruzar, o que fazia antes, mesmo elas sendo castradas”, destaca a futura médica veterinária. Hoje, o cão está muito bem e não apresentou nenhuma reação adversa ou problema.
O professor da UFRRJ, João Telhado, completa dizendo que a esterilização química é ótima para campanhas de castração em massa principalmente por conta da facilidade e rapidez da aplicação e por não se enfrentar problemas com o pós-operatório.
Unip
Segundo avaliação da médica veterinária Ana Geraldini, que acompanhou três animais esterilizados quimicamente na UNIP de Bauru, os cães não apresentaram sinais de stress, medo ou dor no momento da aplicação. “Tínhamos três tipos de cães, um bonzinho, um bravo e um normal. O que me chamou mais atenção foi que o bravo deu muito trabalho na hora da imobilização, mas no momento da aplicação ficou calmo e tranquilo, o que indica que ele não sentiu dor.”
Na opinião da veterinária, a esterilização química é uma ótima ferramenta para castrações em massa e, principalmente, para cães de grande porte que muitas vezes sofrem com a castração cirúrgica, além dos benefícios de não ter pós-operatório e de preservar a estrutura anatômica do cão, fato importante para muitos proprietários, principalmente homens. “Atualmente os cães se encontram calmos e receptivos, tiveram apenas uma pequena diminuição do tamanho dos testículos. Eles convivem com uma fêmea castrada e não apresentam libido exacerbada,” diz Ana.
Unimonte
Segundo Thais Balazs, médica veterinária e dona de três dos seis cães castrados quimicamente na Unimonte de Santos, o método foi aprovado e, se aplicado segundo o protocolo de analgesia, os animais não sentem dor e ficam calmos durante e depois da aplicação. “Era como se não tivesse acontecido nada”, conta.
Já a coordenadora do curso de medicina veterinária da Unimonte, Luciana Campos, completou dizendo que “o método é excelente, muito prático, rápido e eficaz. A aplicação é muito tranquila, o animal não tem reações adversas e nem dor. Atualmente os cães estão mais calmos e sossegados, pois antes eram muito agitados”, relata.
Como toda novidade, a esterilização química ainda é encarada com ressalvas por muitas pessoas. Porém, isto está mudando, o que é muito positivo, já que a luta contra o abandono não pode prescindir de ferramentas que provem ser mais simples, seguras e eficazes para abreviar esse processo.
Os projetos, eventos e outras ações da ARCA BRASIL - Associação Humanitária de Proteção e Bem-Estar Animal, entidade não governamental sem fins lucrativos, independente e apartidária, inauguraram uma nova era de esperança e respeito aos direitos dos animais no país.
Cookie | Duração | Descrição |
---|---|---|
cookielawinfo-checkbox-analytics | 11 months | This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookie is used to store the user consent for the cookies in the category "Analytics". |
cookielawinfo-checkbox-functional | 11 months | The cookie is set by GDPR cookie consent to record the user consent for the cookies in the category "Functional". |
cookielawinfo-checkbox-necessary | 11 months | This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookies is used to store the user consent for the cookies in the category "Necessary". |
cookielawinfo-checkbox-others | 11 months | This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookie is used to store the user consent for the cookies in the category "Other. |
cookielawinfo-checkbox-performance | 11 months | This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookie is used to store the user consent for the cookies in the category "Performance". |
viewed_cookie_policy | 11 months | The cookie is set by the GDPR Cookie Consent plugin and is used to store whether or not user has consented to the use of cookies. It does not store any personal data. |