Novos elementos para identificar e ajudar aqueles que sofrem do transtorno e seus animais
“O hábito de colecionar coisas, mesmo que não tenham qualquer utilidade à primeira vista, é um hábito comum entre crianças e adultos, tanto em sociedades modernas como primitivas”, explica o neurologista e diretor do Instituto do Cérebro de Brasília, Ricardo Teixeira. Em artigo, ele revela que o comportamento de estocar comida é descrito em pelo menos 12 famílias de pássaros, 21 famílias de mamíferos e vários tipos de insetos.
O pesquisador esclarece ainda que, em humanos, a situação pode estar associada a doenças neuro-psiquiátricas, e se apresenta quando o indivíduo coleciona exageradamente e de forma indiscriminada, tendo muita dificuldade em se desfazer do que foi acumulado.
Com relação aos bichos, o quadro é mais complicado. “Quando a situação foge do controle, causando sofrimento e comprometendo a saúde física e psicológica dos animais, estamos diante de um caso que pede tratamento apropriado”, alerta Marco Ciampi, presidente da ARCA Brasil. Além de negligenciar as necessidades básicas dos animais, essas pessoas ainda ferem o artigo 32 da Lei 9.605/98, a Lei dos Crimes Ambientais, que prevê punição para quem “praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos”.
Normalmente, os colecionadores demoram anos até serem descobertos e, quando isso ocorre, muitos dos animais não podem ser salvos. Estudos mostram que a maioria deles morre em decorrência das condições em que estavam sendo criados.
Em São Paulo, o CCZ atende por meio de denúncias. De acordo com a assessoria do órgão, o encaminhamento inclui questões legais, a destinação dos colecionadores após análise por uma equipe multidisciplinar e tratamento dos animais envolvidos.
Os trâmites incluem vistoria, orientação, abertura de Processo Administrativo, publicação de Termo de Compromisso de Adequação e, caso necessário, penalidades e a remoção dos animais. De acordo com a situação, os acumuladores podem ser encaminhados à Unidade Básica de Saúde, ao Centro de Referencia de Assistência Social, ao Ministério Público, à Supervisão Técnica de Saúde, à Delegacia do Meio Ambiente e também à ongs de proteção animal.
A intenção do colecionador patológico, não raro, é a melhor possível: fazer o bem para os animais. Porém, não é isto o que acontece.
Para não cair neste cenário é preciso ter a consciência de que conviver com esses melhores amigos, além de ser um privilégio, exige muita responsabilidade. A máxima do “coração de mãe”, onde sempre cabe mais um, não se adéqua aqui. Existe um limite claro do número de animais aos quais cada indivíduo, dentro de suas disponibilidades materiais e temporais, pode se dedicar. E ainda não perder de vista que trabalhar na doação responsável – para, aí sim, conseguir ajudar o maior número de cães e gatos – é um gesto de desapego e amor.
Como ajudar um colecionador patológico
A ARCA Brasil reúne abaixo, algumas informações – com base em conhecimentos da ONG norte-americana ASPCA – que podem servir como apoio para uma ação de ajuda a acumuladores.
- Antes de tudo é preciso ter certeza de que se trata realmente de um colecionador compulsivo. Nem sempre um número alto de animais é sinal deste comportamento, mas bichos apáticos, magros, cheiro forte de urina e fezes, são alguns dos principais sinalizadores de que há algo errado. Os vizinhos podem ser uma boa fonte de informação.
- O mais recomendável é formar uma equipe de ação em que alguns dos integrantes sejam próximos ao indivíduo. Um dos maiores desafios para amparar uma pessoa nessa situação e fazer com que ela mesma aceite auxílio. O primeiro contato deve ser sempre um oferecimento de ajuda. É importante lembrar de estar sempre simpático para com a vitima do transtorno ou ela pode deixar de colaborar. Enquanto do seu ponto de vista ela está causando sofrimento aos animais, a visão dela é de que os está salvando.
- Para dar os cuidados necessários aos animais, como passeios, melhoras do ambiente e tratamento veterinário, é importante ganhar a confiança do indivíduo e dar garantias de que os bichos não terão nenhum tipo de sofrimento. Num segundo momento, com bastante conversa e uma relação mais próxima, pode-se começar a tocar na idéia de doar alguns animais.
(nota: é preciso convencê-los a não pegar mais animais. Saber dizer não é essencial neste momento de recuperação.)
- É primordial que o acumulador tenha algum tipo de apoio psicológico profissional. Alguém próximo a ele pode ser a chave entre ele e essa terapia.
Se o indivíduo se mostrar apático a todas essas iniciativas, as autoridades podem ser acionadas. No entanto, é importante não abandonar a pessoa após essa intervenção, pois o comportamento pode retornar.
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