O caráter epidêmico da Leishmaniose Visceral Canina joga um balde de água fria nas nossas aspirações de grandeza…
O Brasil tem pleiteado o status de país desenvolvido. Vem até emprestando dinheiro para nações mais pobres. Isso significa que os problemas de saúde, educação, infraestrutura e tantos outros estão resolvidos, certo?
A resposta a esta pergunta é um sonoro NÃO. Na área de saúde, infelizmente, ainda ostentamos alguns indicadores típicos de Terceiro Mundo, inclusive com graves lacunas no saneamento básico. A situação é tão gritante que o tema escolhido pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) para a Campanha da Fraternidade 2012 foi a saúde pública.
Se as pessoas são impactadas pelas deficiências em saúde pública, os animais, então, sofrem exponencialmente mais. A prova mais contundente desta nossa afirmação é o surto de leishmaniose visceral canina (LVC), doença que, de 2000 a 2011, causou mais mortes que a dengue em pelo menos nove estados brasileiros.
No total, 2609 pessoas morreram em virtude da doença – infelizmente, não existe um número oficial de quantos cães foram levados à eutanásia por estarem soropositivos, mas os relatos informais dão conta de alguns milhares.
A forma como o Estado lida com essa questão é deplorável. Ao praticar a sumária retirada dos animais de seus lares, as autoridades passam várias mensagens “tortas” à população: tira do proprietário / guardião o dever de zelar pela saúde do seu companheiro até o final da vida, banaliza o vínculo existente e pode até levar ao descuido em relação a outras zoonoses (se o animal vai ser retirado em pouco tempo, por que correr o risco de criar afeto ou “gastar à toa” em vacinas e outros cuidados?). Também pratica uma política paternalista, ainda que às avessas: seu animal está doente? Ok, não faça nada! Nós (governo) o mataremos para você!
Países mais ou menos desenvolvidos do que o Brasil têm feito a opção pelo tratamento do animal. Existem meios preventivos e tratamentos que, se bem conduzidos, podem garantir boa qualidade de vida ao cão e deixar em segurança os seres humanos que o cercam. Em resumo: o mundo trata; o Brasil mata – por opção.
É contra essa opção equivocada que a ARCA Brasil está mobilizando a classe veterinária, simpatizantes da causa animal e formadores de opinião. A civilidade e o bom senso pedem mudanças urgentes nessa política de extermínio . É hora de investir na educação das pessoas, de disseminar os métodos preventivos e de cultivar os bons princípios da guarda responsável.
Os cães não são coisas. São seres vivos que constroem um vínculo consistente de afeto com suas famílias humanas. Precisamos aprender a fazer por eles aquilo que eles fariam por nós. Um bom amigo jamais abandona o outro!
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