A frase foi rabiscada por uma menina de 9 anos, ao lado da figura de um cão, durante palestra do veterinário brasiliense Paulo Tabanez, na cidade de Rondonópolis (MT). Em sua simplicidade, ela resume de forma comovente o turbilhão de emoções que toma conta daqueles que perdem um amigo querido na guerra contra a Leishmaniose Visceral Canina (LVC): tristeza, remorso, angústia…
Tabanez é integrante do Brasileish, grupo de especialistas criado com o objetivo de rever as políticas de controle da LVC no país. Quando viu o bilhete da criança, ele pediu a autorização do pai para reproduzi-lo em suas apresentações – afinal, não basta fazer uma abordagem fria, técnica, da doença. É preciso também discutir outras implicações que uma política de saúde pública obsoleta inflige à população como um todo. São traumas, sofrimentos desnecessários, arrependimentos. Coisas que ninguém quer sentir.
Política ineficaz
Um decreto de 1963 determina que os cães que apresentam soropositividade para a Leishmaniose devem ser eutanasiados. Com 50 anos de existência, essa norma é incompatível com todos os instrumentos que existem hoje para promover o controle e o combate à doença – vacinas, sprays repelentes, remédios para o efetivo tratamento da moléstia…
Ultrapassada, a política de extermínio também não surte efeito. A LVC avança pelo Brasil, e nos últimos anos transcendeu os limites da zona rural, chegando às cidades – inclusive a algumas capitais. E nosso país é o único do mundo a praticar a eliminação dos cães infectados (chamados de “reservatórios”) como método de prevenção à doença – quem realmente a transmite é um flebótomo, conhecido popularmente por mosquito-palha.
“Não existe uma única evidência de que tirar a vida de um cachorro protege as pessoas”, afirma o Dr. Carlos Henrique Nery, presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical e doutor em Saúde Pública pela Harvard University. Ele se opõe à eliminação dos cães como forma de combate à LVC: “Não se pode mais admitir políticas públicas que não estejam fundamentadas em evidências científicas”, enfatiza.
Providências urgentes
A doença avança e pede atitudes urgentes. Se nada for feito, mais cães serão sacrificados injustamente. Se você ama o seu melhor amigo, informe-se. Conheça as diversas formas de prevenção: coleiras, medicação spot on, vacinas e mudanças de hábito.
Alerte seus amigos e familiares para a importância da prevenção, e pressione as autoridades por políticas públicas eficazes e humanitárias.
Milhares de animais estão sendo condenados à morte! Não espere isso acontecer na sua casa.
Para estimular o debate:
Você considera aceitável que animais sejam mortos sistematicamente, como parte de uma política de saúde pública?
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