Elas resgatam, levam ao veterinário, procuram novos lares, divulgam na internet, cobram as autoridades. Conheça um pouco sobre essas incansáveis batalhadoras
Infelizmente não é difícil encontrar animais abandonados, são milhares de cães e gatos pelas ruas das cidades brasileiras, principalmente nos grandes centros urbanos. Em função dessa realidade um grupo é capaz de mudar o caminho, chegar atrasado ao trabalho, tirar dinheiro do próprio bolso e até alterar os planos para o fim de semana.
Eles são “os protetores”, que passam uma vida se dedicando a esses excluídos, que sofrem maus tratos, estão desnutridos, doentes e machucados. O esforço é tamanho que mesmo sem uma pesquisa a respeito, suspeita-se que eles evitem que o problema chegue a um ponto insustentável.
Mas quem são essas pessoas e por que elas dedicam tanta energia aos animais? Conheça algumas histórias.
Patrulha do bem
Ela é conhecida no meio da proteção animal pela maneira diferenciada com que atua. “A maioria acaba enxergando e vivendo muito mais os problemas do que as causas, que geram e perpetuam esse triste quadro. É necessário questionar o porquê e evitar que outros venham a passar pela mesma situação. Esta abordagem e filosofia são essenciais para se avançar na solução definitiva do problema”, enfatiza Izolina Ribeiro, criadora do projeto Esquadrão Pet – que prioriza a falta de fiscalização da lei paulista que regula a criação e o comércio de filhotes.
Para ela, há seis anos na militância, esse trabalho é muito especial. “Protetores são seres iluminados, merecedores de toda a admiração e bênçãos dos céus. Temos visto muitos jogando a toalha por não terem mais condições de prosseguir. Isso não pode acontecer”, finaliza a protetora que já é uma referência no meio.
Salvando “as feras”
Foi em 2008 que um pit bull mudou a vida da analista de sistemas, Fabiana Auer. “Ele foi abandonado na veterinária onde eu tratava meu outro cão, estava com a pata seriamente machucada e a eutanásia paga. A médica não aceitou e me pediu ajuda para encaminhá-lo para adoção. Fui à clínica por três finais de semana, no terceiro ele saiu do canil e veio direto para mim, colocando a cabeça no meu peito. Chorei muito, a esta altura ele já havia roubado meu coração”, recorda a protetora Fabiana.
De lá para cá a analista se dedica a três projetos: SOS Felinos, abrigando em seu apartamento duas gatinhas que estão para adoção, o Projeto Amigos 4 Patas, onde organiza uma feira anual de adoção e arrecadação de produtos para ajudar protetoras independentes, e é moderadora do Grupo Adote um Pit Bull Brasil, que tem como objetivo encontrar novos lares para pit bulls – a raça mais estigmatizada da atualidade.
Gatinhos cariocas
Em 2007 quando uma colônia de gatos que moram em um Parque do Rio de Janeiro, com mais de 300 mil metros foi ameaçada, o Projeto Gatos Encantados entrou em ação.
“A proposta é capturar, castrar e devolver os bichanos para o mesmo local, além de alimentá-los e levá-los ao veterinário quando necessário. No Brasil isso é pouco conhecido, mas na Europa e nos EUA é uma tendência quando se trata de colônias. Todos os gatos castrados têm a pontinha da orelha cortada para servir de identificação”, explica a produtora musical Ângela Belluomini – que mesmo botando a mão na massa, não se considera uma protetora, “apenas adoro animais e não conseguiria ver tanto abandono e não fazer nada”. A iniciativa segue outro projeto desenvolvido em Portugal: http://www.animaisderua.org.
Plugadas na rede
Elas não se conhecem pessoalmente, mas já trocaram e-mails. A rede diminuiu distancias e até se tornou um divã para dividir aflições, pedir ajuda e compartilhar vitórias.
A analista de marketing, Fabricia Braga responde e-mails, encaminha pedidos de ajuda e promove a adoção de pets em uma feirinha independente. “O objetivo é fazer a diferença e ajudar a diminuir o problema, tanto dos animais quanto da saúde pública”, explica a jovem que por seus ideais, já foi voluntária e funcionária da ARCA Brasil.
Em outro computador, a administradora de empresas, Simone Götzö pede ajuda para protetores que confia e conhece. “Comecei com a Cidinha, que cuida de 130 cães, e a Sandra que têm cerca de 50 cães, inclusive animais especiais”, conta Simone, que conta porque as pessoas confiam nela. “Sempre fui organizada, transparente e só ajudo quem eu conheço, confio e me prestam contas dos auxílios recebidos”, assegura.
Bendito fruto entre as mulheres
O meio da proteção animal é praticamente dominado por figuras femininas, mas entre tantas mulheres, o industrial Reynaldo Camelo Barbosa é uma feliz exceção. “Faço um trabalho constante com cães e gatos, aonde recolhemos, castramos, vacinamos e trabalhamos sua doação, principalmente em feiras”. O grupo que ele participa deve virar uma ONG no futuro.
Para Reynaldo as pessoas querem ajudar, mas não sabem como. “Tão importante quanto a ajudar cães e gatos é orientar as pessoas, o que fazer quando for resgatar, aonde levar e como proceder depois de resgatado”, explica o industrial que ama os animais.
Parcerias especiais
Em municípios carentes, como Francisco Morato, região periférica da Grande SP, onde a administração pública não desenvolve nenhum tipo de política relacionada aos animais, protetoras especiais podem significar a única salvação de cães e gatos que vivem largados pelas ruas ou sofrem agressões.
A auxiliar de escritório, Adriana Cotrim atua como um lar transitório em parceria com sua chefe e fiel companheira nessa luta, Sra. Graça. “Quando tenho vaga, cuido dos mais carentes, castro e quando não tenho, presto assistência na rua até abrir uma vaga”, conta Adriana. Mas hoje em dia isso está mais fácil graças a parceria entre a dupla e a Veterinária Solidária, Dra. Amanda Rodrigues de Oliveira, que cedeu a frente da sua clínica para a feirinha de adoção que acontece aos sábados. “No primeiro final de semana foram adotados sete filhotes e dois adultos”, anima-se Adriana.
Cadê o Estado?
Todos os entrevistados já passaram por situações difíceis e até pensaram em desistir, mas a satisfação em ajudar um animal e encontrar um novo lar é o grande combustível.
“Nós protetores independentes fazemos o papel do Estado, que deveria oferecer castrações, hospitais veterinários gratuitos e investir em educação. Só assim teremos crianças melhores e adultos responsáveis, e por conseqüência o número de abandonos e maus tratos aos animais diminuiriam drasticamente”, desabafa Simone Kötzö.
“Devemos valorizar o papel dessas pessoas notáveis, sem eximir o poder público da sua grande parcela de responsabilidade. Além de fiscalizar criadores, pet shops e punir os infratores, é preciso priorizar ações preventivas, que inclui o registro animal, ampliar as castrações e principalmente, educar e conquistar a adesão da sociedade”, resume o presidente da ARCA Brasil, Marco Ciampi.
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