Um cão morto a golpes de pá; um filhote de gato arremessado em meio a um violento protesto. Como lidar com a crueldade extrema?
A popularização de certos conceitos da Psicologia e Psicanálise levou a sociedade moderna a tentar explicar até os piores comportamentos por um viés racional, associando, por exemplo, a agressividade e a violência a um contexto familiar desestruturado.
Também se tornou comum buscar explicações socioeconômicas para toda sorte de crimes: a pobreza e a ausência de oportunidades estariam, portanto, na origem de assassinatos, estupros, assaltos, espancamentos…
Sem entrar no mérito desta ou daquela ideologia ou concepção de mundo, o fato é que essa busca por respostas racionais tenta, de certa forma, “justificar” acontecimentos brutais e poupar seus autores da responsabilidade pelos seus atos. Será que não estamos negligenciando algo muito básico? Não estamos simplesmente esquecendo que o mal existe? Não estamos fazendo de conta que não existe gente ruim?
Dois casos muito recentes de crueldade contra animais nos convidam a refletir sobre isso.
Na noite do último dia 19 de maio, Dante, um cão da raça chow chow, foi amarrado a um poste e morto a golpes de pá pelo empresário Alexander Soares Eguchi, no bairro Recreio, zona Norte do Rio.
Segundo depôs a filha do empresário, Alexander é usuário de drogas. Naquela sexta-feira fatídica, chegou em casa completamente alterado e tentou estuprá-la. Diante da resistência da filha, ele a ameaçou com uma faca e Dante avançou para defendê-la. Nesse momento, ela conseguiu fugir. Mas ficou receosa de que o cão, nervoso como estava, acabasse mordendo alguém. Assim, amarrou-o a um poste enquanto buscava socorro.
Ela não imaginava que o pai voltaria sua agressividade contra o animal: primeiro, esfaqueou Dante, que reagiu com mordidas; depois, terminou de matá-lo a golpes de pá, e fugiu. No dia seguinte, Alexander foi encontrado e levado à delegacia, sendo liberado em seguida.
Apenas cinco dias após a morte brutal de Dante, outro caso de extrema crueldade contra animais chocou o país. Dessa vez, a vítima foi um filhote de gato, arremessado por um dos manifestantes que pediam a saída de Michel Temer da presidência da república, durante ato de protesto e incêndios na Esplanada dos Ministérios.
O gatinho foi resgatado pela jornalista Carla Benevides, da TV Senado. Ela levou o animal a uma clínica no Lago Norte, onde foram diagnosticadas rupturas de ligamentos e tendões. A pata do bichinho literalmente se soltou durante a queda, e terá de ser amputada.
Os dois casos aqui relatados são apenas os mais recentes. Podemos enumerar, em instantes, pelo menos mais 20 casos assim, nos quais a maldade e a covardia vitimaram seres indefesos.
Acabar com a impunidade de quem pratica atos cruéis contra animais no país é urgente e necessário. O mal – não podemos fechar os olhos para ele – deve ser punido com rigor e intransigência. Quem é capaz de, covardemente, atirar um filhote de gato durante uma manifestação, só porque o bichinho apareceu, todo assustado, no local e no momento errados; ou quem mata o cão da família, logo após tentar violentar a própria filha, não são pessoas para as quais o divã do psicanalista tenha muito a oferecer. São pessoas más e precisam ser responsabilizadas por suas odiosas escolhas. Não que se deva abdicar da esperança de recuperar para o convívio social até o pior facínora. Mas é preciso ser realista e reconhecer que a punição, em casos como esses, é a única resposta possível.
Em tempo: para o gatinho de Brasília, o futuro parece promissor. Embora esteja com a saúde debilitada, já tem adotante e muitas pessoas torcendo por ele e zelando para que receba todo cuidado necessário. Acompanhe: fb.com/gatinhoresgatadoesplanada
Já a vida de Dante não terá retorno. Acabou de maneira cruel, estúpida e brutal.
A eles, e a tantos outros, devemos justiça. Justiça para os animais.
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